quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Blog Action Day 2014 - A luta do feminismo

Hoje, 16.10.2014, é dia do blog action day 2014, que é uma espécie de evento que acontece desde 2007 na internet no qual ~blogueiros~ do mundo todo, em um dia escolhido pela organização, para falar sobre um tema específico. São sempre assuntos muito importantes e nesse dia as pessoas usam a internet para chamar atenção para o tema escolhido. Descobri há alguns dias que esse blog action day existia e resolvi participar. O tópico do ano é desigualdade.

A desigualdade reina no nosso planeta. E ela é de todo tipo: econômica, racial, orientação sexual e de gênero. E ela mata. Sim, a desigualdade mata milhares de pessoas todos os anos. A desigualdade econômica mata pessoas que simplesmente não tem o que comer - é só você ter em mente que 1% da população mundial concentra metade da riqueza do planeta. O racismo mata (vide caso Ferguson, nos E.U.A). A homo/lesbo/bi/transfobia, adivinhem só: mata também.  E, por último, mas não menos importante, o machismo mata. E vou utilizar meu espaço no blog action day exatamente para (tentar) abordar algumas nuances do machismo.

Há quem diga que machismo não existe, que as mulheres já conquistaram todos os direitos dos homens, afinal elas podem trabalhar, escolher com quem casar, podem até votar...querem mais o quê? Mas, será mesmo que feminismo era apenas sobre isso? Não que essas não sejam conquistas válidas, muito pelo contrário, são importantíssimas. Por muito tempo as mulheres tinham que ficar apenas em casa cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos. Trabalhar? Nem pensar! OPA! Mas..peraí? Será que era assim com todas as mulheres? Não. As mulheres negras (que quase sempre eram as mais pobres), por exemplo, não eram impedidas de trabalhar, muito pelo contrário, elas precisavam trabalhar para complementar a renda. De toda forma, o fato de poder ter autonomia sobre o corpo, de votar e ser votada, estudar e crescer na vida as mulheres conseguiram, a questão é: até que ponto.

Até que ponto todas nós temos liberdade para fazer o que quisermos com o nossos corpos? Será que essa liberdade é plena? Digo que não. Se usamos roupa curta (para mostrar o corpo que é nosso), somos vadias, piranhas, vagabundas. Se, ao contrário, somos discretas, quase sempre taxadas de frígidas, santinhas (que tem sentido pejorativo sim) e ainda nos dizem "ah você deveria se valorizar mais, assim nunca vai arrumar um namorado", se usa muita maquiagem, é fútil; se não usa nenhuma é porque não gosta de ~se cuidar; se é muito magra também é ruim pq "homem gosta de carne", se é gorda é preguiçosa e tem que fazer regimes insanos e ir pra academia; se corresponde ao padrão de beleza, é fútil, burra, incompetente - nao sei qual motivo, mas as pessoas, principalmente os homens, tendem a acreditar que mulheres bonitas são burras - e pior ainda, quando são feias (leia-se: não atendem ao padrão de beleza vigente) são criticadas, porque só pode ser desleixo. Nós mulheres não podem ser donas nem da nossa própria aparência, porque a sociedade machista quer sempre ditar os nossos comportamentos.

Não bastasse isso, até na hora de escolher profissão: aquela dicotomia horrorosa de "isso é trabalho de homem, aquilo é de mulher". Não tenho dados, mas sei que nas áreas que envolvem as ciências exatas, o número de mulheres é bem reduzido. Será que aquela aquela historia de que mulheres são ruins em matemática é  verdade? MAS É CLARO QUE NÃO. Nós simplesmente não costumamos ser estimuladas, quando crianças, para que essas aptidões se desenvolvam. Então você encontra nas áreas de ciências exatas um número bem maior de homens. As mulheres que chegam lá costumam sofrer muito preconceito, vítimas diretas do machismo que nos diz todos os dias que mulheres têm que trabalhar apenas na área de humanas porque são mais sentimentais, que não temos competência para nos especializarmos e trabalharmos na área que quisermos pq "isso não é coisa de mulher".

Eu sou péssima em matemática. Muito ruim mesmo. Mas não foi falta de estímulo. Minha mãe sempre, desde criança, me dava brinquedos educativos, com formas geométricas, brinquedos de montar, muito quebra-cabeça (desses eu gosto até hoje). Ela me dava bonecas também, eu gostava de barbie e dessas bonecas bebês, mas uma coisa que a minha mãe nunca fez foi me dar outros típicos brinquedos de menina: coisas de cozinha. Aquele fogão, a vassoura, a pia, os jogos de pratos e xícaras. Com tanta coisa pra aprender, pq ela iria me ensinar a fazer tarefas domésticas? Infelizmente, não são todos os pais que pensam assim e acham q esse tipo de brinquedo é "de menina" pq é obrigação da mulher as tarefas domésticas. Não, não é. 

Uma mulher, assim como um homem, tem que saber fazer as atividades de casa sim,  pra saber cuidar de si, não "pra casar". Nunca vi ninguém ensinar meninos  a cozinhar com o argumento de "tem que saber cozinhar pra quando casar". Mas já vi o contrário. E com certa frequência, infelizmente. Não fui criada pra casar. Tudo relacionado a tarefas de casa que minha mãe me ensinou foi dizendo "o dia que tu for morar sozinha e ter a tua vida, tem que saber se virar". E ainda bem que minha mãe me ensinou assim. Gostaria que todas pudessem ter essa oportunidade.

Minhas amigas, ainda tem mais. A nossa aparência não é nossa, a sociedade inteira cuida dela pra que sejamos compelidas a nos achar feias e gastar milhares com produtos de beleza (uma industria muito lucrativa), ou então como se nossa vida inteira devesse ser baseada em nos arrumar pra conseguir homem. Não podemos escolher uma área que gostamos mais pq temos que responder à expectativa de sermos sempre as emocionais que jamais usam a razão. Além disso, precisamos nos submeter a todo tipo de assédio e violência (qualquer tipo de violência, não apenas física) e ainda acham ruim quando reclamamos. Nem na rua, que é pública, temos paz. Chamam de "cantadas", mas eu chamo de ASSÉDIO. Andar na rua e ouvir coisas do tipo "gostosa!", "vou te chupar todinha", "bocetao"..somos abrigadas a aceitar esse tipo de violência??? NÃO, AMIGAS, NÃO SOMOS! Vamos, sim, reclamar, chamar as autoridades competentes, não só pra esse tipo de assédio. No trabalho também, mulheres são vítimas constantes de assédio sexual e muitas, que necessitam do emprego, acabam se submetendo. Tá na hora de dar um basta! Sem mencionar aqui a violência doméstica. Quantas mulheres apanham e morrem pq os esposos pensam ser donos de um objeto? Quantas mulheres na rua são estupradas pq homens se sentem no poder de usar de um corpo sem autorização, apenas pra mostrar que podem tudo? E, pior, o destrato conosco é tão grande que quando queremos denunciar, passamos pelas situações mais constrangedoras possíveis. É polícia despreparada para receber vítimas desse tipo de violência, é falta de equipamentos e profissionais para que possamos fazer os exames de corpo de delito com o mínimo de constrangimento, é a sociedade nos culpando de crime dos quais somos vítimas.

O machismo faz com que não possamos ser dona do nosso corpo. O machismo nos tira nossos desejos e aspirações profissionais. O machismo machuca. O machismo mata! 

Eu, como feminista que sou, estou aqui para convidar todas para lutar contra esse sistema que prime a todas nós (e oprime os homens também), e para dar mais visibilidade ao tema. ao me utilizar do espaço do blog action day. Estou aqui para (tentar) acabar com o mito criado pelo machismo de que mulheres são inimigas, mulheres são fofoqueiras, mulheres não são confiáveis. Esse tipo de discurso serve apenas para nos afastar e, desconfiando uma das outras, deixemos de nos unir para lutar contra todo esse sistema tão cruel. Temos que nos unir.

Feminismo não é sobre mulheres conquistarem o mundo e passarem a oprimir os homens. Feminismo é sobre escolhas, opções, oportunidades para os gêneros. Feminismo é sobre igualdade!


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