segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Quem é você no facebook?

Ah, o Facebook, sempre ele - seus usuários, na verdade - que, ao que parece, a maioria é constituída por reacionários, ultra-conservadores que insistem em impor sua moral a todos independente de qualquer coisa.
Hoje a discussão se deu pq uma colega (de feminismo, inclusive) compartilhou a seguinte charge:



Um  machista-reacionário-sem noção foi lá deixar sua opinião, claro e, além fugir TOTALMENTE do que a charge tratava (a diferença de tratamento entre homens que abandonam mulheres grávidas x mulheres que abortam) e começou a se colocar totalmente o aborto, por que é matar uma vida e blablabla. Tirei um prints pq ne não poderia perder a oportunidade:


"Tem até na cantina da UNIR" (Unir - Universidade Federal de Rondônia - não parece, mas é). Ora, como universidade federal qualquer pessoa com um mínimo de consciência, sei lá, social, sabe que, apesar do nome, ela não é universal, muito pelo contrário, é um ambiente bem restrito. Mas vamos lá pq tem mais:

"A questão da escolha é mais da mulher é ela quem escolhe se vai conceber ou não a criança". Uma pessoa dessas não sabe que não se faz sexo apenas com o intuito de procriar, ne, ALÉM DISSO, aparentemente ele acredita que a mulher controla os seus óvulos, tipo "ei não deixem o o espermatozoide fecundar hein heuheue". A responsabilidade da contracepção é: dos dois! Diferente do que o colega pensa, não é porque as mulheres carregam o maior ônus de uma gestação que devem ser as únicas preocupadas. Afinal, o pai também tem responsabilidades, como a de não abandonar o filho, tendo a obrigação legal de garantir, no mínimo, o sustento material. Prossigamos (sim,há mais absurdos):

"Esse argumento utilitarista justifica também que se prendam todos os homens negros e pobres pq são mais propensos a pratica crimes". Olha só até onde vai o pensamento desse ser humano. Compara duas coisas que não têm relação alguma. Ah! Só pra que todos entendam, o argumento utilitarista a que ele se refere é um que eu coloquei no comentário logo acima, dizendo que ser favorável ao aborto não quer necessariamente dizer que é legal abortar, que as pessoas acham bacana e o máximo, mas que a legalização vem pra proteger vidas, uma vez que manter a conduta criminalizada faz com que além de perder a vida do feto (há discussões na ciência sobre o início da vida), milhares de mulheres  morrem por terem que realizar o procedimento em clínicas clandestinas ou mesmo em casa; também disse que as mulheres com alto poder aquisitivo podem pagar para q o procedimento seja feito de forma um pouco mais segura ou até mesmo viajar até um país onde seja legalizado. De toda forma, ser a favor da regulamentação da prática é a opção que salva mais vida (vide países que optaram por isso). P.S: o comentário abaixo não está escondendo a identidade da pessoa pq euzinha quem fiz. Prosseguindo:


Sim, ele falou em "aborto de crianças nascidas e de até 18 anos". A menos que uma gestação possa durar 18 anos, acho que abortar alguém de 18 anos seja difícil, ne, mas é claro que ele não fala por que diz claramente "ABORTO DE CRIANÇA NASCIDA". Olha, até onde eu sei, depois que nasceu não tem mais como abortar, né. Bom, não sei, mas se ele pensa ser possível o aborto de alguém de 18 anos, talvez o medo dele seja que ainda dê tempo de abortá-lo.

...........................................................................................................................................

Nesse post aqui a feminista cansada disse tudo o que precisava ser dito. Optar pela legalização do aborto é optar pelo caminho que salva mais vidas.
Lendo tudo o que o rapaz escreveu, eu pensei, bem triste, no quanto é triste a imposição de valores. Eu tenho uma religião que toda a minha família segue. Por motivos de acreditar no que ela ensina, eu, pessoalmente, não faria um aborto e se uma amiga/colega/conhecida viesse me perguntar À LUZ DA RELIGIÃO QUE EU SIGO, eu diria o que penso enquanto pessoa religiosa, tirando essa situação, não posso querer convencer ninguém a fazer ou deixar de fazer algo baseado numa crença minha. Seria absurdo o contrário e é o que percebo em muitas pessoas. Ninguém tem que acreditar ou aceitar os dogmas religiosos de outrem. Se você é contra, não faça. Apenas.
Também fiquei intrigada com a convicção com que o colega afirma que a vida se inicia no momento da concepção. Até os cientistas divergem nesse ponto, como ele pode ter tanta certeza (ele não é médico e nem faz medicina. Tenho o desprazer de ser sua colega de curso. Felizmente não de classe)? Sabe-se que, hoje em dia, legalmente falando, a vida termina com o fim da atividade cerebral, ou seja, mesmo que os demais órgãos estejam em funcionamento, se o cérebro parar, a pessoa deve ser declarada morta e seus órgãos podem ser doados para muitas pessoas que estão na fila de espera dos transplantes! Ora, se o final da vida se dá com o término da atividade cerebral, o começo dela se dá com o início da atividade cerebral que vai ocorrer depois do terceiro mês de gestação. Utilizando-se desse parâmetro, um aborto até o terceiro mês de gestação não estaria tirando nenhuma vida e, até onde eu sei, os médicos brasileiros sugerem que a interrupção da gravidez se dê até o 3º mês. 
"Ah mas o nascituro têm os direitos garantidos pelo Código Civil Brasileiro". Quem se interessar e decidir ler sobre o tema, encontrará uma doutrina que diverge muito sobre o tema! O legislador garantiu sim os direitos do nascituro (criando para assegurá-los até mesmo uma Lei de Alimentos Gravídicos), mas a maioria deles só podem ser exercidos após o nascimento com vida. 
Quanto a descriminalização não precisa ser especialista em direito penal pra saber que o tipo penal do aborto não tem eficácia alguma. Ele está lá no Código Penal, mas o número de denúncias que ele gera é quase ínfimo. Tipo o adultério que no Brasil foi considerado crime até o ano de 2006, um verdadeiro despropósito. O que o direito penal tem a ver com infidelidade conjugal? A mesma coisa: o que o direito penal tem a ver com o útero das mulheres. Nada 
O Estado, ao manter a conduta criminalizada, fecha os olhos para milhares de mulheres que morrem anualmente. Legalizar (e regulamentar, claro), não é um incentivo ao aborto, pelo contrário, pq junto com a legalização deve vir consicentização. Educação sexual nas escolas, em casa, parar de tratar sexo como tabu. Já que nas atuais gerações não se conversa em família sobre o tema, é importante que a escola faça isso para que as gerações que em breve estarão tendo seus próprios filhos, saibam da importância do diálogo sobre o tema.
E: os argumentos dele todos são, além de moralistas, machistas (se é que dá pra separar uma coisa da outra). Ele mostrava isso todas as vezes que tentava impor não só o seu modo de pensar, mas também como a discussão (tinha duas outras amigas argumentando) da maneira q ele achasse melhor, usando expressões do tipo "fale assim", "nao fale assado", usando bem esse tom impositivo mesmo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário