quinta-feira, 11 de setembro de 2014

REFORÇANDO ESTERIÓTIPOS - Sexo e as Nega

Estava vendo a novela das 21h - adoro novelas, foi mal - quando, em uma das pausas para o comercial, vejo a globo (sempre ela) anunciando uma nova série chamada: Sexo e as Nega. Na hora eu pensei "opa! pera lá, eu ouvi certo? Vão botar no ar uma série (ou minissérie) chamada SEXO E AS NEGA??????". 




Tava com o meu namorado na hora (pessoa muito inteligente, sensata e que entende muito bem as injustiças sociais e etc) falou pra mim "como tu pode dizer que a série é racista se tu nem assistiu?"

Não precisa ser historiador pra saber que os senhores de escravos estupravam as escravas sempre que queriam manter relação. Quem já leu Casa Grande e Senzala, sabe. Pra quem se interessar, indico também a obra Entre a Luxúria e o Pudor - a historia do sexo no Brasil que fala de como os primeiros portugueses viam as índias e, mais tarde, de que maneira tratavam as escravas - utilizando-as como força de trabalho e brinquedo sexual pra fazer tudo aquilo que as esposas, brancas, não faziam. Assim, um ditado da época era "negra pra trabalhar, mulata pra foder e branca pra casar". 
Acabada a escravidão (que durou 350 anos), as mulheres negras e mulatas continuaram carregando esse esteriótipo de mulheres hipersexualizadas. Hoje, apenas têm espaço na mídia no carnaval do Rio de Janeiro (nao sei se o mesmo no de São Paulo) como as lindas e gostosas passistas, por que é o que elas são: gostosas. Aparecem apenas pra mostrar o corpo e depois são esquecidas até que chegue o próximo carnaval. Além disso, quando retratadas na TV, sempre representam a mulher extremamente sensual que é rainha de bateria, ou empregada doméstica (e ainda tem aquelas que fazem a empregada doméstica extremamente sensual, o que lembra a escravidão, né). Muito raro um papel de protagonista ou que não trabalhe em serviços em que não exigem alto grau de qualificação técnica. Ninguém é menos digna por executar tais serviços, de forma alguma, mas sabemos que hoje as mulheres negras têm muito mais espaço, podem ser médicas, advogadas, engenheiras...o que quiserem! Mas não é como costumam ser representadas na TV...o esteriótipo de pessoa que sempre estará na classe mais baixa da sociedade segue reforçado diariamente pela grande mídia.
Aí, pelo que vi do comercial: esse nome racista e machista mais 4 mulheres faveladas, que têm subemprego.....tem como pensar que "o conteúdo é bom"? Não mesmo. Nem precisei assistir pra saber.
No dia seguinte, vi na internet notícias de que já havia 7 denúncias contra o programa, todos feitos por movimentos negros. Vi textos em blogs, cartas aberta e tudo mais sugerido até mesmo um boicote ao programa.Fiquei muito feliz em saber que eu, mulher parda, apesar de não sentir exatamente o peso que é carregar todo esse estigma, consegui visualizar a problemática da situação. 
Então, não, eu não preciso assistir pra saber que o programa será uma porcaria e só servirá pra reforçar os esteriótipos já existentes.

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O autor, Miguel Falabella, se defende das acusações dando declarações absurdas. Fala, ainda, que está empregando e dando oportunidade para atores e atrizes negras que dificilmente conseguem espaço. Sim, atores e atrizes negros quase nunca conseguem espaço na mídia, pouquíssimos conseguem chegar ao status de não precisar fazer os papéis de sempre, mas fazer uma séria inspirada em Sex and the City (famoso seriado norte-americano cuja ideia central consiste em contar a vida e aventuras de 4 mulheres brancas e ricas de Nova York) e colocar 4 negras pra fazer os papéis de sempre (faveladas, subemprego) e ainda colocar que vão transar muito é uma oportunidade que serve única e exclusivamente para, repito, reforçar esteriótipos que essas pessoas já carregam no seu dia-a-dia. 



P.S: meu namorado acabou entendendo e concordando porque, nesse caos pelo menos, não havia nada de errado em pré julgar.
PPS: aquiaqui e aqui 3 blogs com textos maravilhosos sobre

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